Seres
humanos, seres complexos
Agimos pela
razão e pela emoção. Somos ambíguos, incoerentes e insensatos, ao mesmo tempo
em que buscamos tal sensatez, coerência e clareza no mundo à nossa volta, nos
vemos à beira de um abismo que é a nossa imaginação. Somos todos poetas de
nosso próprio subconsciente, o eu lírico de nosso próprio eu lírico, somos
criativos, observadores longínquos daquilo que nos inspira, agimos pelo que
existe e pelo o que pretendemos criar, mirabolamos planos, planejamos fugas de nós
mesmos, enxergamos nosso exterior e interior com olhos completamente
diferentes, buscamos o inatingível e também o que está ao alcance de um passo.
Somos tudo. Somos
um todo, um completo e complexo ser. Somos um e muitos. Múltiplas
personalidades em uma. Múltiplas atitudes praticadas por um único ser. Vários
coelhos atingidos por uma mesma cajadada. Somos o cajado com o qual nos
atingimos, e a toca que nos faz coelhos. Julgamos a nós mesmos, diariamente, e procuramos
melhorar. Buscamos o sim, embora aceitemos o não. Perdoamos, somos perdoados,
guardamos rancor, remoemos aquilo que foi dito inúmeras vezes até que tenhamos
entendido por completo. Questionamos. Buscamos constantemente uma resposta para
as tantas perguntas que nos fazemos todos os dias. Há dias em que sorrimos,
contentes por não encontrá-las, enquanto há dias em que nos culpamos por não
termos sido capazes de fazê-lo. Às vezes somos felizes, às vezes, melancólicos.
Por vezes somos egoístas, e por outras, altruístas até demais. Muitas vezes,
somos pacientes, exceto quando nos convém não ser. É nesse momento que a
impaciência impera e demora a desaparecer. Somos tímidos, ou falantes, depende
do ambiente, por vezes, um livro aberto, prontos para de tudo compartilhar, e
por vezes, reservados, uma edição de capa dura, de difícil alcance. Há dias em
que acertamos e outros em que erramos. Há dias em que nos sentimos socialmente
desajustados, e outros em que abraçamos a possibilidade de sermos populares, em
que queremos nos sentir os “relações públicas” da vez. Às vezes, somos
espertos, manjados e engajados em assuntos dos mais diversos teores, e outras
vezes, somos estúpidos e levamos um tempo para compreender nossa própria
estupidez. E há, aquelas vezes em que mesmos espertos, agimos de forma
estúpida, contraditória, desatenta. Nesse momento, estivemos aéreos, alheios às
nossas próprias ações ou escolhemos não dar atenção à razão. É quando nos
estranhamos e nos culpamos, nos sentimos aleatórios e sem propósito. É quando
nos perguntamos “e se?”, refletimos, pensamos, até que o tempo passe, até que
nossas atitudes remendem a si mesmas, e é aí que percebemos o quão fácil é
prevenir e complicado, remediar.
Há dias em que
rimos, há dias em que sorrimos e outros em que fechamos a cara para o mau
tempo. Também há dias em que choramos de emoção, e há dias em que seguramos as
lágrimas para que a tristeza não fique tão evidente. Dias em que o desapego é
nosso lema, e dias em que só queremos um abraço que nos conforte. Dias em que o
sol brilha para nós e dias em que encontramos nossa nuvem particular, que padece
e permanece, até que achemos uma solução para um imediato problema dentre os
muitos que carregamos de bagagem. Somos humanos, problemáticos, sensíveis,
amáveis, odiosos, bondosos, críveis e incríveis, capazes de amar e de odiar ao
mesmo tempo, de acertar e de errar com a mesma freqüência e facilidade, os
seres mais fascinantes que a humanidade já viu. Seres que mesmo habitando
lugares diferentes e tendo fisionomias distintas, na essência, agem como um.
Podemos, às
vezes, nos contentar com pouco, ou quem sabe, podemos querer mais, muito mais,
e testar o nosso potencial. Errar, frustrar-se, tentar de novo, e de novo, até
conseguir. Ainda que chegar lá não seja o mais importante, pois o que interessa
mesmo é o caminho e o aprendizado que cada um de nós tirará dos seus erros. E
agregar esse conhecimento ao seu cotidiano, e interiorizar o que foi
descoberto. E um dia, tentar alcançar um milésimo do que os realizados sentem. Aliás,
somos seres tão difíceis que o difícil para nós é nos realizarmos completamente
com algo que fizemos. Nos julgamos a todo momento para que um dia nossas
atitudes mudem e façam de nós melhores indivíduos.
E sabe a quem
pedimos ajuda? Aos amigos. Aqueles que nos aconselham e a quem aconselhamos,
aqueles que mudam você e por você, aqueles cujas atitudes, falas ou falhas lhe
fazem pessoas melhores, lhe fazem enxergar seu verdadeiro eu, sem choro nem
vela, sem julgamento, sem remorso e, sempre, com um olhar compreensivo e um
sorriso no rosto – mesmo que seja triste ou de desaprovação. Quem entrega a
mágoa ao magoado, quem enxuga as lágrimas do sofredor e quem divide os sorrisos
de felicidade a qualquer momento do dia ou da noite, quem lhe compreende, lhe entende
e jamais lhe ofende, e quando o faz, é o primeiro a lhe fazer entender de que
maneira você deve rever os seus conceitos, de que maneira deve transformar
desaprovação em aprovação, de que forma um dos dois conseguirá perdoar ou ser
perdoado, o que eventualmente acontecerá. É esse indivíduo que divide com você
o que chamamos de amizade. Aquele que olha nos seus olhos e vê o que se passa
em seu interior sem que você profira uma única palavra. Aquele com quem você
não hesita em compartilhar os melhores e os piores momentos, aquele que você
está disposto a ouvir e ajudar a qualquer momento, mesmo em uma madrugada
qualquer. Não é a toa que dizem que amigo é coisa para se guardar no lado
esquerdo do peito. Cultive os seus, pois os amigos são como seu jardim
particular. Até porque os amigos são aquelas pessoas que sabem tudo sobre você,
e ainda assim, gostam de você. E são seres fascinantes, não são?