domingo, 17 de julho de 2011

Conectado dia após dia

Ouço o que não quero escutar. Olho o que não desejo ver. Sei de tudo um pouco. Leio e fico a par de informações. Faço as de outros, palavras minhas. Ideias conjuntas, compartilhadas, repletas de pensamentos mútuos.
Vejo os demais, sei o que fazem, e invado a privacidade de quem é meu mero conhecido.
Conheço vidas e outras culturas. Exploro um mundo que não é meu. Atinjo o particular de cada um. Alguns amigos, outros apenas pessoas que conheci um dia.


Comumente me percebo perdida em pensamentos que não são meus, verbalizações virtuais e caminhos percorridos pelo desconhecido, memórias das quais nunca farei parte. Recordações estampadas em fotografias, em palavras, em vídeos que todos passam a compartilhar. Talvez eu acabe conhecendo-os, indiretamente, mais do que ouvindo falar, sabendo por terceiros, quartos e quintos. Aprendendo no caminho hábitos diferentes e modos de agir inspiradores.

Sou imersa em informações úteis e inúteis, sem poder distingui-las ou de forma produtiva, utilizá-las. O pensamento se torna real e este, tão claro, pronto para ser verbalizado, se torna um número ínfimo de caracteres em uma rede mundial.
Sou alvo de promessas e compartilho minha vida com quem devo e com quem não devo. Exponho-me. Sou vítima de sentimentos e conflitos alheios e aleatórios, que nada tem a ver com a minha vida. Perco-me.  Tento me encontrar. Assimilo. Procuro um refúgio e uma identificação através da tela.
Vejo imagens de momentos dos quais não presenciei. Noto as características dos outros, personalidades distintas e observo. Absorvo-as a mim, perdendo minha singularidade e unindo-me à massa. Não sou mais individual. Torno-me mais um.
Afirmo gostar de algo, sem mesmo saber do que realmente se trata (talvez sim, talvez não), só para que aquele momento em que avistei algo interessante fique marcado por data e hora.
Não é proposital, porém, sou intimada a participar, a apoiar causas que mal me atingem. O riso contagia e a lágrima comove. Os sentimentos não são mais escondidos, são divulgados à medida que a timidez é perdida. Ainda assim, não sinto o que os outros sentem. Procuro encontrar-me na multidão que se torna um, na hora em que o meio digital se apossa de seus sentidos. Dos alheios, fico alheia.

Tento ser eu mesma. Submirjo e compartilho. Estou online, conectada dia após dia. Faço parte.

Estas são as redes sociais. 
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